Sunday, December 31, 2006

Profundamente Mal-Disposto
(no sentido psicológico da coisa)

Às vezes, como quando não tenho vontade de comer,
não tenho vontade de passar de ano.

Saturday, December 30, 2006

Maior
(porque mais humano, porque vi a beleza que o homem tirou dos lábios das suas mãos)

«Fate had determined that he should leave none of his race behind him, and that he should finish his life poor, lonely and childless.», Barry Lyndon, Kubrick

Friday, December 29, 2006

Felix Felicitate
(feliz pela felicidade)

A RAINHA

Proclamei-te rainha.
Há-as mais altas do que tu, mais altas.
Há-as mais puras do que tu, mais puras.
Há-as mais belas do que tu, mais belas.

Mas tu és a rainha.

Quando vais pela rua,
Ninguém te reconhece.
Ninguém vê a tua coroa de cristal, ninguém repara
Na alfombra de ouro rubro
Que pisas ao passar,
A alfombra que não existe.

E, quando surges,
Todos os rios marulham
No meu corpo, os sinos
Abalam o céu,
E um hino enche o mundo.

Apenas tu e eu,
Apenas tu e eu, meu amor,
O escutamos.

Pablo Neruda, Os Versos do Capitão

Thursday, December 28, 2006

Neutral

der, die, das

Wednesday, December 27, 2006

Heartamente

(Equilíbrio.
Corça de Cerineia: apanhei-te - porque me fiz tu
E recusei ser um Hércules
ou um Leão: para poder não ter de obedecer a Euristeu.
Afrodite consagrou-te inteligentemente. Psique?)

Tuesday, December 26, 2006

Confuso Incompreendendo
(Dazed & Confused)

?

Monday, December 25, 2006

Doentemente Farto
(um sentimento no percurso do dia: aberto de graça e encontro no Galo)

FARTO
(1988- Manuel Amaral Beja. Escola Secundária de Gil Vicente, Lisboa)

estou farto. estou absolutamente farto de tudo e de todos, estou negativamente farto, das horas, dos autocarros, das aulas, das pessoas, de tudp, dum tempo e dum espaço onde tenho irremediavelmente de viver e ainda daqueles que nos dizem ironicamente que somos nós que construímos o nosso futuro, este país há-de estar nas mãos dos jovens de hoje, tretas, são tudo tretas, porque tenho o direito, a quase obrigação de estar farto. porque somos jovens e os jovens contestam e, logo, tenho a aobrigação de contestar. mas eu contesto a obrigação de contestar. estou farto de proibir, de caetano veloso, de censura e meio de 68, toda uma geração de contestadores atrasados a martelarem-nos nos ouvidos a glória da sua contestação tal qual um defensor do fascismo nos falaria do estado novo. porque no fim e na realidade são todos iguais, os estudantes de letras de 72 ou os gajos do gnr que cercavam a cantina são até capazes de ser todos da mesma laia, e eu tenho o direito de estar farto de ambos sem me preocupar qual dos dois me permitiu esse direito, estou farto das pessoas. estou (ir) reversivelmente farto das pessoas. da caridade, da maldade, do seim e do não e até do talvez, estou farto de ter de viver com elas sem ter feito nada para isto. porque sou irreversivelmente egoísta e vaidoso, pretensioso, convencido, disfarçando melhor ou pior, sou o que quiserem que eu seja, porque o que é o egoísmo senão uma palavra dos mesmos de quem eu estou farto? não quero compartilhar o meu amor com elas quando não as amo!, isto é se tenho algum, nem o meu real pensamento, se é que o descubro lá no fundo da arca, tão camuflado que vai estando. se não estivesse farto de fernando pessoa até o citava. estou farto de toda a literatura, farto de tudo o que li mas mais farto ainda daquilo que não li. assim como não me preocupa absolutamente nada, nada mesmo, que estejas farto da merda que estás a ler. mas eu ainda não estou totalmente farto de mim nem do que escrevo, por isso vou continuando a fartar os outros com isto. estou farto das maiúsculas no início da frase e dos parágrafos e das aspas e do quadriculado e também estou farto de de descobrir que estou farto de muito mais coisas do que pensava estar. estou banalmente farto do snobismo. estou banalmente farto das putas legais, as mulheres que casam para servir a seu amo, na cama, na cozinha e ficam grávidas, as carnes balofas e lá vai o santo amo servir-se nas ilegais. porque o casamento é tantas vezes a prostituição por lei. mas isto dizia a isabel do carmo e eu estou farto dessa vaca burguesa com pseudo-ideias a pseudopuxar para o pseudo-revolucionário. mas também estou farto, igualmente farto, da gente que viaja nos mesmos autocarros que eu, tantas vezes porca, tantas vezes quase tão porca com a minha mente nos seus mais imundos. porque eu reconheço-me de irremediavelmente racista social, mas reconheço que o meu instinto é dominado pela razão, que reconhece os direitos humanos e vê todos como irmãos. estou loucamente farto da razão, da minha razão. estou loucamente farto da razão da minha razão, do racional e racionalismo e racionalista. estou farto, pois a minha mão não acompanha o meu pensamento nem este quer acabar. estou farto do físico que não acompanha o instinto. provavelmente não sou eu que estou farto disto tudo, o meu instinto é que está farto de ser tão controlado. estou farto da violência deste texto agora mas não me parece que deva continuar em tons de rosa e turquesa. é outra vez a luta entre o instinto e a razão. e quero discorrer que estou naturalmente farto da rotina e começo a estar farto da própria palavra farto, mas continuo. talvez seja puro sadomasoquismo, quem sabe, pronto, apetece-me. e grito se me apetecer. ou não grito? claro que não, e estou farto de me dizerem que vou ter de parar, e de me perguntarem se não conheço os parágrafos e de ter de me ir embora, de cumprir o que me querem destinar, e que realmente cumpro. estou farto de cumprir!

Sunday, December 24, 2006

Cansadamente Doente

Natal, todavia. Natal havia. O Galo. Decapitá-lo. O Grito. A Gruta.
Gloria in Excelsis Deo - Eius Nox, Lux Nostri.

Saturday, December 23, 2006

Satisfeitamente Cansado

Coisa estranha esta, de um cansaço preguiçoso, que é a fadiga de termos dores de pouco termos feito para as ter. Há neste cansaço algo de moral, no seu comportamento. Os sentimentos vivem?

Nova Proposição

A Ressureição, de Matthias Grünewald

Efémero foi o tempo que durou a realidade.

Sonho haja que garanta coisas novas.


Rebildo a pedra de sião, novo arquitecto. Lanço ao céu as mãos e ao projecto - e prometo-me maior liberdade na forma. Eliminei todo o pouco, ainda que sincero, trabalho que deixei antes. Aprendi de Nero que só incendiando Roma se constrói Nova Iorque. Nada prometo, paa não ter mais remorsos das quantas coisas que jurei e falhei (o verbo falhar rebola pela minha vida, como um objecto precioso que se deixa cair pela costa de uma montanha e vai rolando, batendo em cada escarpa, e saltando, menino de primária sobre nenúfares, e a cada vez, falhando mais, falhando mais - até ser todo encharcado das lágrimas do perdido). Valha a boa vontade como garante do recomeço.