Friday, January 19, 2007

Hino à Alegria
As coisas altas que se podem experimentar numa Baixa!
O enchimento de coração, o futurismo de estar imerso, nadando, numa massa
E ser todas as pessoas com que chocamos deliberadamente para as sermos!
Ah! Viver por cada vez que os outros vivem e mais vezes ainda pelas vezes que se esquecem de viver!
As lojistas estão às portas a beber o ar, as pessoas circulam como dançam num são joão!
Há os carros e os autocarros e calçada calcada, o ritmo 'celerado
E as pessoas no sítio de relógios compraram cronómetros!

As pessoas! Esta coisa maravilhosa que são as pessoas!
As pessoas fazem muitas, muitas coisas, como se fossem brinquedos engraçados com multi-funções para entreter a criança fastidiosa:
andam, comem, bebem, falam, respiram, correm, param, olham, compram, gritam, agem!
Acção/Acção!

As palavras rebolam prostitutas entre as bocas e um par de namorados casa-se debaixo do arco.
Os sacos de achados sacodem-se e chocam-se. as pessoas correm e tocam-se:
Há comboios a apanhar
Há comboios a apinhar
Há autocarros a apanhar
Há autocarros a apinhar
Há sempre alguma coisa a apanhar
E essa sempre-alguma-coisa apinhada!
Raios para isto!

E a rua como rio com caudal e leito e barcos e descobrimentos!
Que descobrimento constante cada pessoa a cada instante
O mistério que encerra, a circumnavegação que não lhe fiz
Porque morri quando dava a volta à terra - pelo mar!
Ai!, os tesouros que não se revelam, as riquezes subterradas
E o orgasmo de ver tudo isto a desfilar e eu não poder parar, não poder parar, não poder parar, não poder parar!



E eu parado à parede, eterno a contemplar...

(22 de Janeiro de 2007, rascunho)

1 comment:

rita said...

Porque é bom encontrar nas palavras de alguém coisas que já se sentiram muitas vezes, porque é bom saber que não se vive sozinho neste mar de coisas eternamente sentidas, eternamente observadas, como se estivessemos numa estação à beira da linha, ouvissemos o silvo e ficássemos a acenar eternamente do lado de fora da janela de um comboio de partida...
Adorei este teu texto (não o sinto rascunho) e também o título do blog, que não conhecia!