Tuesday, September 18, 2007

Divertido
Empurrei a porta com força e pressa: debaixo da árvore, uma caixa grande como um desejo. Ainda em pijama, os meus pais vieram a seguir, muito novos, e acarinhados um no outro. Sentaram-se no sofá e deixaram-me a cirandar em volta do embrulho, como um predador. Com as minhas mãos pequenas esforcei-me para romper o laço. A minha mãe levantou-se e rápido o desfez (os adultos têm prática em quebrar coisas, nomeadamente promessas). Abri a caixa e tirei de lá o presente: era uma pequena rapariga, de cabelos encaracolados castanhos e uma galáxia menor de sardas. Calculo que tivesse razoavelmente a minha idade (ligeiramente mais velha). Os meus pais disseram-me que se chamava internet, mas eu abreviei para terna. Arranjei-lhe um espaço no meu quarto, por cima da mesa, que desimpedi dos meus livros. E, nos anos da minha infância perpétua, ela tornou-se o meu hobbes.

[post a propósito da descoberta do StumbleUpon]
foto da série costa da caparica, de heidi slimane (1989)

Monday, September 17, 2007

Envergonhado
Dalguma forma, quis-me convencer que até podia correr bem: obviamente, correu mal.

Sunday, September 16, 2007

Nervoso
O meu corpo inteiro era uma comichão. Coisa estranha, esta da inversão do budismo: não é a minha mente que controla o corpo, é ele que suborna o meu espírito. Não estou nervoso tanto porque tema ou receie como porque os nervos (os físicos) me inflamam a carne toda como estivesse a ser co(nsu)mido por dentro como quisesse parir um alien. Mas eu não paro coisa nenhuma: eu nunca pari nada.

Saturday, September 15, 2007

Agnóstico (de Mim)
Não sei se hei-de acreditar em mim:
as maiores mentiras são as que contamos a nós próprios.

Friday, September 14, 2007

Determinado
«
[ i am too busy to have friends

a lover would just complicate my plans
so i will never look for love again]
i'm taking matters into my own hands
»
The Dresden Dolls, First Orgasm

Thursday, September 13, 2007

Querendo (a.k.a. saudades)
Puderas estar aqui. Tenho a certeza que de ti ouviria as palavras necessárias e tenho a confiança de que poderias fazer o julgamento da minha vida e culpá-la de algum sentido, agora que ela foi absolvida de qualquer um. Foste tu, mãe, que pela primeira vez me ensinaste num campo verde a caçar borboletas com uma rede pequena: e os sonhos que eu antes via inútil voar, coleccionei-os no meu álbum, guardados nas páginas que eu ainda não li. Hoje, só há larvas que nunca darão borboletas. Acho que só tu, mãe, me podias consolar agora e deixar-me abraçar-te meia hora como naquela tarde em que te foste embora e não perguntaste nunca a razão de termos estado juntos tanto tempo, eu contra o teu peito. Tu nunca quiseste saber razões: o teu dom era dar razão às coisas. Precisava tanto de ti agora: mas tu estás fora. Já estás fora há muito tempo: só estás cada vez mais dentro de mim.
[fotograma: Breaking The Waves, de Lars von Trier]

Tuesday, September 11, 2007

Desanimado
"I just don't know what to do with myself."
White Stripes, Elephant