Thursday, September 13, 2007

Querendo (a.k.a. saudades)
Puderas estar aqui. Tenho a certeza que de ti ouviria as palavras necessárias e tenho a confiança de que poderias fazer o julgamento da minha vida e culpá-la de algum sentido, agora que ela foi absolvida de qualquer um. Foste tu, mãe, que pela primeira vez me ensinaste num campo verde a caçar borboletas com uma rede pequena: e os sonhos que eu antes via inútil voar, coleccionei-os no meu álbum, guardados nas páginas que eu ainda não li. Hoje, só há larvas que nunca darão borboletas. Acho que só tu, mãe, me podias consolar agora e deixar-me abraçar-te meia hora como naquela tarde em que te foste embora e não perguntaste nunca a razão de termos estado juntos tanto tempo, eu contra o teu peito. Tu nunca quiseste saber razões: o teu dom era dar razão às coisas. Precisava tanto de ti agora: mas tu estás fora. Já estás fora há muito tempo: só estás cada vez mais dentro de mim.
[fotograma: Breaking The Waves, de Lars von Trier]

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